Quando conheci Fred éramos adolescentes. Eu no final da adolescência, ele no começo. Ele já rabiscava alguns desenhos, eu sonhava em acessar a Internet. Ele logo viria a descobrir que era alérgico a tinta e juntos viraríamos artistas digitais. Praticamente crescemos juntos, tanto pessoalmente como profissionalmente. Éramos de gerações diferentes e esse era um toque especial na nossa relação: Ele lia Crime e Castigo e eu lia Homem-Aranha. Ele gostava de música clássica, jazz, MPB e eu da Alanis Morrissette. Ele discutia semiótica e eu “O Efeito borboleta”. Mas não nos definíamos um “cult” e o outro “pop”… Ele também lia Homem-Aranha, ouvia Alanis, tentava me explicar semiótica e assistia aqueles desenhos japoneses que, sinceramente, eu não tinha paciência para aguardar dois meses por um golpe final. Ele era fã de Star Wars, Senhor dos Anéis e Harry Potter, dos quais também sou. Era meu irmão, meu protetor. Compartilhávamos tudo, aprendíamos juntos, nossas diferenças nos fortaleciam.
Fred era Genial. Com as peculiaridades dos gênios, mas com a candura e carisma dos artistas. Realizava com técnica impecável seus trabalhos e sempre buscava se superar nos resultados. Tinha uma excepcional capacidade de transformar ideias e conceitos em resultados que eram lindos por excelência e que encantavam a todos que viam.
Joice era sua inspiração. Completavam-se de uma forma impossível de descrever. Só quem os conheceu sabe como juntos eram perfeitos. Quando penso nela lembro-me da sua pureza e do seu sorriso sincero. Sua forma única de ouvir e conciliar destacava-se dentre muitas das suas qualidades. Dedicava-se a projetos sociais e sofria quando a falta tempo lhe “roubava” essas oportunidades. Era prática, objetiva, ética, forte, determinada, doce e carismática. Um perfeito complemento para um artista.
Dedicavam-se com disciplina e retidão aos deveres espirituais, intelectuais e culturais, pois sabiam que eram os únicos patrimônios valorosos que poderiam construir e perpetuar.
Quem sou eu para questionar os desígnios da vida, muito menos os da morte. A dor ainda é imensurável e o vazio infinito… Se há um motivo para sentir felicidade é de que eles estavam felizes. Viveram com plenitude seus sonhos, exercitaram com louvor seus valores e se superaram nas próprias expectativas. O universo foi gentil e os bonificou com a companhia eterna um do outro.
Honrarei, e convido-lhe, caro leitor, a honrar a memória de tão belos jovens que não só deixarão saudades, mas a sensação de perda irreparável, reconfortável enquanto pudermos perpetuar nossos aprendizados com eles e os mantivermos vivos nos nossos corações.
Cristiano Vasconcelos