Vou ter dificuldade de escrever uma homenagem póstuma para Fred, por uma simples questão, parece que eu não ando sentindo saudade o suficiente.
Há algumas diferenças entre o “estar” e o “existir”, etimológicas para começar, enquanto “estar” indica um “estado” mais corriqueiro entre o aqui, o alí e o acolá; “existir”, nos arremete a uma perenidade no continuum espaço atemporal multidimensional.
Assim enquanto Fred aqui esteve, e eu com ele pude estar, numa experiência afetiva e fraterna bastante enriquecedora, hoje pela própria descontinuidade do verbo, ele não mais está. Tal como André, um outro amigo meu, que vive estando, numa hora em Portugal, noutra na Espanha e até a pouco na Argentina.
André tem uma forma curiosa de expressar sua amizade. Depois de criar inúmeras situações de despedida conosco no intervalo entre um e outro país para onde vai, logo que chega em seu destino, ele nos passa um e-mail, ou nos procura no Skype para perguntar se a gente já está com saudade, ao que custamamos responder: mas André, você nem bem saíu… e com todas as facilidades da internet, e-mail, videoconferência e redes sociais digamos que nossa saudade já não nos assola como há 20 anos atrás. Ele ri.
Como André, Fred também não está mais aqui perto. E de forma adversa, mas tão eficiente quanto, Fred e eu também nos comunicamos. É muito comum que no dia-a-dia eu lhe submeta para apreciação minhas questões de fórum íntimo, e muito frequentemente acordo lembro dele ou do nome dele nos sonhos, passamos a noite conversando, é claro.
E não só… sempre que preciso das citações de Sci-Fi dele, ele costuma me recordar, aliás, esteve comigo quando fui ao cinema assistir Prometheus, e saímos os dois muito satisfeitos. Enquanto escrevo isso, eis ele por aqui outra vez.
É simples, Fred existe. Perene no continuum espaço atemporal multidimensional.
E preciso-lhe dizer, caro amigo, antes que você me pergunte se estou com saudades:
- Claro que estou! Assim como eu fico com saudade de André, quando sai mundo afora. Mas da mesma forma que a internet me conecta ele, o amor nos conecta, eu a ti e tu a mim, e essa ausência já não é um tormento há algum tempo.
Aparece quando puder…
Augusto